Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
Por volta dos anos 1960, Theodore Schultz elaborou o conceito de capital humano e os estudos dele derivados valeu-lhe, em 1979, o prêmio Nobel de Economia. Em síntese, esse conceito significa um valor agregado ao ser humano pelos gastos em educação e saúde.
Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
Por volta dos anos 1960, Theodore Schultz elaborou o conceito de capital humano e os estudos dele derivados valeu-lhe, em 1979, o prêmio Nobel de Economia. Em síntese, esse conceito significa um valor agregado ao ser humano pelos gastos em educação e saúde. Uma população que dispõe de um bom sistema educacional e bom grau de higidez tem pessoas com alta capacidade produtiva, qualquer que seja a atividade a que venham a se dedicar.
Essa referência ao conceito de capital humano revela-se oportuna em função dos últimos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA em inglês), que, num conjunto de 65 países, coloca o Brasil na 53ª posição, em aparente descompasso com sua posição no “ranking” das economias mundiais. Nas comparações internacionais, medidas pelo PIB expresso em dólares, a dimensão do PIB brasileiro coloca a economia nacional como a 8º potência econômica mundial.
O PISA é um programa de avaliação internacional da qualidade da educação desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), ao qual o Brasil aderiu no ano 2000. Visa a medir o rendimento escolar, em Matemática, Ciências e Leitura, dos alunos da faixa etária dos 15 anos, no pressuposto de que, nessa idade, ao término do ensino fundamental, se encerra o primeiro ciclo do ensino básico.
Não obstante a baixa classificação atribuída ao Brasil pelo mais recente inquérito PISA, houve, entre 2000 e 2009, avanços importantes nos três campos objeto da comparação internacional. Tomando como referência o valor 500, como o da média dos países da OECD, nosso País, tendo como ponto de partida o valor 250, avançou em Matemática para 380, em Leitura para 420 e em Ciências para 410. Foram avanços substanciais, sem dúvida, mas que não se traduziram em modificação importante na classificação ordinal, porque outros países também avançaram na educação básica.
No inquérito de 2009, teve mais ênfase a capacidade de leitura. Novamente tendo como referência a média dos países da OECD, com o valor 100, nosso País ficou na metade do caminho, com 50. Comparando com países da nossa região, essa notação de 50 é inferior à da Argentina e do Peru e superior à do Chile, México, Uruguai e Colômbia.
Seja como for, visto do ângulo global, aos olhos do PISA o desempenho dos estudantes brasileiros continua medíocre. Surge então uma questão intrigante. Como pode o País, em seu conjunto, ter um capital humano de pouca qualidade e, ao mesmo tempo, ter uma projeção econômica internacional que o coloca entre as grandes economias emergentes?
As respostas estão certamente centradas no tamanho de sua população. Entre 190 milhões de habitantes, há um processo “darwiniano” de seleção natural de indivíduos, capazes até de superar condições sócio-econômicas adversas para avançar até o ensino superior. Nesse mesmo contingente populacional de 190 milhões, há de haver uma percentagem, ainda que relativamente pequena, de pessoas com alto quociente de inteligência (QI), com testes de avaliação da capacidade cognitiva acima de 120, compondo, assim, massa crítica para aquisição de competência nas diversas áreas do conhecimento.
São esses indivíduos os que passam pelos bancos das universidades e escolas federais, estaduais e particulares de primeira linha e que, nos laboratórios, no campo ou nas linhas de produção industrial e nos serviços, explicam a dimensão alcançada pelo nosso PIB, hoje estimado em dois trilhões de dólares. E que, em certos domínios, nos situam nas fronteiras do conhecimento, como no caso do decifrar o código genético, do processo singular de enriquecimento de urânio, da engenharia genética aplicada à agro-pecuária, da exploração do petróleo e gás em águas profundas ou das técnicas construtivas das grandes barragens.
A julgar pelos resultados do PISA, nossa deficiência no campo educacional está traduzida naqueles que, apesar de ultrapassarem os anos do ensino fundamental, vencendo a evasão escolar, não conseguem bom desempenho ao final do ensino médio .E isso têm travado o acesso ao nível superior.
O que o PISA indica com maior clareza, de vez que o acesso às universidades e grandes escolas não é necessariamente o objetivo final de cada indivíduo, é que nossa debilidade maior está na formação dos chamados “quadros médios”, peça importante no conjunto do capital humano.
Nesse sentido foi alentadora, no discurso de posse da Presidente Dilma Roussef, a afirmação que fez, certamente referindo-se ao ensino básico, de que a autoridade maior em matéria de ensino é o próprio professor. Essa é uma indicação de que o Governo pretende recuperar, nesse nível de ensino, a dignidade do exercício do magistério. Como também parece promissora a proposta, agora apresentada pelo Ministro da Educação, no sentido de um ensino médio em tempo integral, completando o tempo dedicado ao ensino das matérias tradicionais com o ensino profissionalizante, como já vem ocorrendo na Escola SESC de Ensino Médio.
Publicado no Jornal do Comércio de 18 de janeiro de 2011