Jornal do Commercio Editoria: Economia Página: A-4
A tomar como base as projeções de analistas de mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, terá na quarta-feira uma das reuniões mais acirradas dos últimos meses em torno da fixação da taxa básica de juros da economia, a Selic. Das 23 previsões apuradas pelo Jornal do Commercio e a agência Bloomberg, 12 apontam para corte de 0,25 ponto percentual na taxa e 11 sinalizam que a taxa básica de juros deve se manter nos atuais 11,25%.
Jornal do Commercio Editoria: Economia Página: A-4
A tomar como base as projeções de analistas de mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, terá na quarta-feira uma das reuniões mais acirradas dos últimos meses em torno da fixação da taxa básica de juros da economia, a Selic. Das 23 previsões apuradas pelo Jornal do Commercio e a agência Bloomberg, 12 apontam para corte de 0,25 ponto percentual na taxa e 11 sinalizam que a taxa básica de juros deve se manter nos atuais 11,25%.
Para os que apostam na manutenção da taxa básica de juros, o principal foco de preocupação concentra-se na inflação e nos indicadores de aumento da capacidade instalada da indústria, identificado nos últimos levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).
De acordo com os dados da instituição, a inflação no mês de setembro – medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – ficou em 0,18%, apresentando recuo frente aos 0,48% apurados em agosto. Já o uso da capacidade passou de 82,4% em julho, para 82,3% em agosto, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Conservadorismo
“O Banco Central se mostrou muito ortodoxo em seu relatório de inflação. Existem várias maneiras de se analisar um mesmo número. Se a inflação se mantém estável, por exemplo, pode-se interpretar que ela não subiu, mas também pode se entender que ela não caiu. O BC tem ficado com a segunda opção. Por este motivo, apesar de acreditar que há espaço para um novo corte, espero que o Copom opte pela manutenção da Selic em 11,25%”, avalia Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores.
Caso mantida a taxa, Pessoa acredita que o corte ocorreria na próxima reunião do comitê, a ser realizada em 4 e 5 dezembro. Para ele, o objetivo da estratégia do BC seria esperar pela divulgação de novos indicadores para se certificar de que inflação e câmbio estão realmente controlados. “O corte em dezembro seria de 0,25 ponto percentual, encerrando o ano em 11%”, acrescenta o economista da LCA Consultores.
Também apostando na manutenção da taxa está a Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi). Segundo o conselheiro econômico da entidade, Istvan Kasznar, o cenário externo tornou-se referência contínua para ajustes dos nossos juros internos.
“A pujança da economia americana, a força ou a fraqueza do dólar, o volume de créditos subprime nos bancos mundo afora e a sustentabilidade do crescimento real da China e da Índia estão sendo questionados de forma crescente, desde junho deste ano. Diante deste quadro e sobretudo após a divulgação da última ata do Copom, que chamou a atenção para um repique da inflação, o que parece é que o BC percebeu que estabilizar a taxa em 11,25% pode ser um bom negócio momentâneo. Uma parada no mais longo ciclo histórico de baixa da taxa Selic, de dois anos consecutivos de cortes, representa um ajuste normal e esperado”, afirmou Kasznar.
Já entre os analistas que apostam em corte da taxa básica de juros, há consenso de que esta redução será de 0,25 ponto percentual.
“Os votos do comitê serão bem divididos. Dificilmente teremos unanimidade na decisão. A ata do Copom feita após a última reunião se mostrou mais conservadora, mas não podemos nos esquecer que ela foi realizada em meio a cenários doméstico e externo bem diferentes do atual. A inflação já se mostra mais controlada e não deve estourar a meta do governo. O câmbio também recuou”, analisa o economista Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management.
Alexandre Póvoa acredita que o Copom só fará novo corte na Selic após o primeiro trimestre do próximo ano.
Cautela
O economista sênior do Banco Santander, Maurício Molan, também compartilha da opinião de um corte da reunião de quarta-feira por conta de indicadores de que a inflação está mais controlada, mas se mostra mais reticente em relação a novo corte da taxa na reunião de dezembro. “Isto só voltará a acontecer a partir do segundo semestre do ano que vem. Até lá, o BC vai observar o comportamento da economia, ver como esta absorveu o corte realizado em outubro”, diz Molan, que prevê o IPCA em 4% ao final de 2007.
O analista da Paraty Investimentos, Marcelo Ganem, também acredita em redução de 0,25 ponto percentual na reunião desta semana. Segundo afirma, o maior risco da inflação ainda está concentrado em alimentos e ainda não há dados conclusivos sobre uma possível ameaça na capacidade instalada da indústria.
“Ainda é preciso observar os número que vão sair nos próximos levantamentos. Os sinais são de que o uso da capacidade deve ficar próximo da estabilidade”, defende o analista da Paraty Investimentos.