Jornal do Commercio Editoria: Economia Página: A-5
Se existe alguma dúvida em relação à manutenção da taxa básica de juros brasileira na última reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que será realizada nestas terça e quarta-feiras, é em relação à duração da estabilidade da taxa Selic. Todos os 25 analistas e instituições consultados pelo Jornal do Commercio e pela agência Bloomberg acreditam que a taxa de juros será mais uma vez mantida nos atuais 11,25% ao ano.
Jornal do Commercio Editoria: Economia Página: A-5
Se existe alguma dúvida em relação à manutenção da taxa básica de juros brasileira na última reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que será realizada nestas terça e quarta-feiras, é em relação à duração da estabilidade da taxa Selic. Todos os 25 analistas e instituições consultados pelo Jornal do Commercio e pela agência Bloomberg acreditam que a taxa de juros será mais uma vez mantida nos atuais 11,25% ao ano. É consenso também que esta não será a última reunião de manutenção deste nível. O único ponto de divergência entre economistas é até quando os juros serão mantidos pelo BC. E nenhum dos especialistas acredita haver espaço para elevação dos juros em 2008.
A postura do Copom nas duas últimas reuniões, em setembro e em outubro, indica que a decisão desta semana será pela manutenção da Selic nos níveis atuais, de acordo com os especialistas. A maior preocupação não é propriamente a inflação, mas os efeitos que o aumento da demanda, em decorrência das últimas reduções dos juros, podem vir a ter.
Preços
A maioria dos economistas acredita que a demanda vai crescer em ritmo mais acelerado do que a capacidade de produção, o que pode acabar levando a pressão sobre os preços. A estabilidade da taxa de juros teria como objetivo inibir o aumento do consumo em ritmo muito elevado. O temor é de que a produção não consiga suprir esta demanda, porque o nível de utilização da capacidade instalada nunca esteve tão elevado no País.
O economista-chefe para América Latina do ABN Amro Bank, Alexandre Schwartsman, acredita que a pausa no corte dos juros deve durar bastante tempo. Atualmente, pode-se perceber forte aceleração da economia, com expansão significativa das vendas no varejo, assim como a demanda privada doméstica. “O nível da capacidade instalada, de acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), está no topo da história brasileira, em torno de 83%”, disse Schwartsman.
A diferença entre o que a economia brasileira é capaz de produzir e o que está produzindo atualmente – o chamado hiato de produto – está caindo. Esta é uma sinalização de que é preciso ter atenção à inflação futura.
“Por exemplo, se for necessário aumentar a produção de uma indústria com um terceiro turno de funcionamento, noturno, o custo deste turno será mais elevado, o que pode elevar os preços e pressionar a inflação”, explicou o Schwartsman.
Para o economista, nem todos os efeitos das últimas quedas dos juros apareceram ainda na economia, devido ao impulso monetário que será verificado ainda ao longo de 2008. “Já há sinais de que pode faltar mão-de-obra especializada. A infra-estrutura também está no limite. A grande pergunta que o BC se faz é o quanto a oferta consegue crescer e o quanto a demanda ainda vai crescer. A autoridade monetária quer evitar descompasso entre a demanda e a oferta”, disse.
Todos os especialistas consultados estão de acordo com a visão do BC de que os juros precisam ser estagnados agora, mesmo que no futuro se perceba que não havia necessidade. Se os juros fossem reduzidos e a demanda aumentasse mais do que a oferta, para frear o consumo, o BC precisaria aumentar os juros, tentando consertar a queda excessiva.
Trata-se da chamada ‘estratégia do mínimo arrependimento’. O custo de parar agora e voltar a cortar no futuro, caso se verifique possível, é considerado muito menor do que uma eventual elevação da taxa já no ano que vem, depois de mais de dois anos de cortes seguidos. Desde setembro de 2005 a autoridade monetária corta incessantemente a taxa Selic, tendo parado pela primeira vez na última reunião, em 17 de outubro.
A taxa de câmbio também é observada com cautela, porque a desvalorização do real ante o dólar pode pressionar a inflação, não só pelos preços de produtos importados, que ao subirem levam consigo os preços internos, mas pelos investimentos em maquinário para a ampliação da capacidade de produção brasileira. No entanto, esta hipótese é considerada remota. Especialistas acreditam na estabilidade do câmbio.
Um problema que pode atrapalhar estes planos é a piora do cenário externo, atualmente repleto de incertezas em relação à economia americana, devido a possíveis efeitos da crise do crédito subprime. Por mais que existam possibilidades concretas de que o cenário externo está mudando e de que possa haver menor fluxo de recursos em direção a países emergentes, os especialistas acreditam que o Brasil está mais preparado para enfrentar crises internacionais.
O Brasil mudou muito desde as últimas crises internacionais. “A dívida externa é baíxissima, em torno de 0,9% do PIB. As reservas internacionais somam mais de US$ 177 bilhões. Os países asiáticos continuam tendo expansão forte, o que sustenta os preços das commodities. Mesmo se houver crise nos EUA, o real não deverá se desvalorizar tanto como nas últimas crises”, disse o economista do BNP Paribas, Eduardo Yuki.
Para Yuki, uma eventual piora da crise externa, dentro de proporções em que o Brasil consiga manter-se forte, pode ser até favorávl. “As exportações diminuiriam um pouco o ritmo, o que desaceleraria a necessidade de produção e, conseqüentemente, aumentaria a sobra da capacidade instalada de produção”, disse o economista do BNP Paribas.
Para José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Fator, “mesmo que haja piora progressiva do cenário externo, não deverá ser grande o suficiente para acarretar em uma elevação dos juros brasileiros em 2008. Talvez para o ano seguinte”.
Impacto
O economista-sênior do Banco Santander, Maurício Molan, acredita que a estabilidade da taxa de juros brasileira vai durar até junho ou julho do próximo ano. “A inflação não deverá superar a meta, mas o ritmo crescente da demanda deve ser maior do que o da oferta. O BC estabilizou os juros para verificar o impacto deste movimento sobre a inflação”, disse.
Para Molan, será preciso esperar até o meio do ano para verificar os efeitos da demanda porque usualmente a inflação já é maior no primeiro trimestre do ano, devido a efeitos sazonais de reajustes escolares, com o início do ano letivo, e de preços de alimentos, com as chuvas de verão prejudicando as colheitas.
“A inflação do primeiro trimestre é muito concentrada em serviços. Precisamos ver ainda como a economia vai responder aos últimos cortes de juros, cujos efeitos demoram a ser sentidos”, disse Molan.
Ainda sobre a inflação, a economista do Unibanco, Giovanna Rocca, acredita ser necessária estabilidade da taxa até ao menos a segunda metade do ano que vem. “Hoje há pressões inflacionárias sobres os alimentos, com as exportações e com a demanda doméstica aquecidas. O cenário externo continua sendo de forte incerteza, mas não foi por isso que o BC parou de cortar os juros. Se continuasse cortando os juros, daria mais estímulos para que a demanda continuasse crescendo. Com a pausa, vai poder verificar se os investimentos na capacidade produtiva, que acontecem desde 2003, serão suficientes para atender à crescente demanda”, disse Giovanna.
Já o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos, acredita que a instituição responsável pela política monetária do País já volte a cortar os juros em abril próximo. “O processo de manutenção da taxa é recente, com as incertezas em relação à inflação. Mas em abril já se terá verificado quais são os riscos de haver hiato de produto e quais serão as pressões sobre os preços dos alimentos”, disse Campos.